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Desde as primeiras décadas do século XX uma série de estudos que tinham por objetivo lançar olhares mais globais so- bre a Amazônia acabaram por formular, em termos genéricos, algumas linhas de interpretação sobre a experiência reli- giosa das populações locais. Esses trabalhos insistiam, de modo geral, na constatação um povo maciçamente católico distribuído pelos interiores desse imenso território, mas cuja fé também se adaptou à ausência do clero católico, a pa- drões de conduta pouco ortodoxos nas ocasiões festivas e a uma resistência (às vezes organizada) às normas da Igreja. Esse quadro sincrético também foi traçado um pouco mais tarde por Charles Wagley (1977) e por Eduardo Galvão (1976), que observaram no cotidiano das populações ribeirinhas uma mistura de elementos que compõem a fé cristã do colonizador europeu e as crenças das populações indígenas, com seus universos mitológicos permeados de seres mágicos.

          Esses mesmo autores apontaram também para a chegada de judeus, espíritas, protestantes e demais “infiéis” (cf. André Vidal Araújo, 1956) à Amazônia, sem no entanto, dedicar grande atenção à penetração desses “outros” no terri-tório. A partir dos anos 1960, a consolidação das obras sociais católicas nos estados da região e a criação de prelazias e dioceses acentuam ainda mais o “papel civilizador” da Igreja Católica entre os povos da Amazônia, tornando a diversi- dade religiosa ainda mais invisível. Apenas nas capitais – que cresceram e se transformaram mais rapidamente – a plu- ralização do campo religioso foi destacada com mais acuidade (cf. Cesar Romero Jacob 2006). Hoje, porém, a interiori- zação da universidade pública e o estabelecimento dos Programas de Pós-Graduação em diversas instituições de ensi- no e pesquisa do Norte do Brasil têm propiciado aos cientistas sociais da religião observar, de vários ângulos e partin- do de diferentes referenciais teóricos, as mutações religiosas de um campo que não cessa de redefinir suas fronteiras e identidades.

          Ainda assim, a riqueza e a pulsação religiosa da Amazônia não estão nem de longe contempladas por um número relativamente reduzido de estudos e pela ausência de interpretações de maior fôlego que relativizem os estudos clás- sicos acima mencionados, tendo em vista o contraste existente entre aquilo que foi observado em meados do século XX e a realidade social das religiões no início do século XXI. Embora venham crescendo, mesmo os trabalhos acadêmi- cos - mais pontuais e monográficos, são pouco visualizados e a ausência de linhas mais amplas de pesquisa impede que uma releitura seja realizada, por meio de uma articulação coletiva, organizada em torno dos desafios históricos da re- gião e das perspectivas abertas nos dias atuais.

          Compreendemos que o processo de regionalização da Associação Brasileira de História das Religiões ganha, en- fim, maior efetividade, com realização, em 2017, de eventos que sintetizam as pautas e demandas locais, sem perder contudo a sintonia com um projeto mais amplo de tornar a ABHR uma entidade participativa e proficiente, que se po- siciona diante de temas de relevância nacional e que encampa a luta contra a intolerância religiosa e qualquer outra violação dos Direitos Humanos. Esse I Simpósio Norte da ABHR e IX Semana de História do CESP/UEA nasce, assim, pa- ra marcar posição frente ao debate acadêmico sobre as religiões na Amazônia, mas também como esforço de promo- ver um encontro de ideias, um palco de debates e uma incubadora de projetos, capazes de dialogar com a sociedade na promoção do respeito às muitas tradições religiosas (em especial as dos povos ancestrais que habitam as florestas) e promover uma cultura de paz.

          É com muito orgulho que a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), situada cidade de Parintins, terra de uma das mais importantes festas folclóricas do Brasil e fronteira entre os estados do Amazonas e do Pará, acolherá neste ano o I Simpósio Norte da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR) entre 29 de agosto e 01 de setembro de 2017. O evento se soma também ao esforço de consolidar, no interior, o curso de História da Universidade do Estado do Amazonas e será realizado nas dependências do Centro de Estudos Superiores de Parintins (CESP) e do Li- ceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro – Unidade de Parintins. Terá como tema “Amazônia no plural: religiões, fronteiras e identidades”.

          Alinhando-se à proposta dos eventos nacionais da Associação, o Simpósio também será palco do “Fazendo Arte”, mostra artística da ABHR, realizado em diversos momentos do evento, além de diversas outras atividades culturais e lançamento de livros. A programação acadêmica contará com conferências, mesas-redondas, minicursos, oficinas e grupos de trabalho (com apresentação de comunicações orais e pôsteres). No último dia teremos a assembleia geral ordinária e um passeio de barco com os participantes pelo Rio Amazonas e lagos do entorno. 

          Convidamos todas as pessoas a participarem vivamente de todas as atividades do I Simpósio Norte da Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR) e IX Semana de História do CESP/UEA: Amazônia no plural: religiões, fron- teiras e identidades”. Parintins, a terra dos bois-bumbás (Caprichoso e Garantido) está pronta para acolhê-los.

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